Predicar
Predicar é dizer algo sobre alguém ou alguma coisa. Qualquer coisa. Exemplos:
- Sócrates é homem.
- Cachorros são fofinhos.
- Fogo não é matéria.
Todas essas frases possuem um sujeito e um predicado. Na frase “Sócrates é homem”, Sócrates é o sujeito e “é homem” predica o sujeito, pois diz algo sobre o sujeito. Em outras palavras,
- ”Sócrates” é predicado por “ser homem”
- “ser homem” predica de Sócrates
- “ser homem” é predicado de Sócrates
O predicado portanto é aquilo que é dito sobre alguém.
Gênero e espécie
Algumas noções comuns:
- Gênero e espécie são como categorias “pai” e ”filho”. Eles são definidos recursivamente em termos um do outro.
- Gênero e espécie predicam essencialmente muitas coisas.
- Predicar essencialmente quer dizer que algo predica o que uma coisa “é”, a sua essência.
Gênero é aquilo que predica essencialmente muitas coisas que se diferem em espécie.
Existem espécies intermediárias e finais (especialíssimos). Os especialíssimos predicam essencialmente muitas coisas que diferem em números (indivíduos). Já as espécies intermediárias são ordenadas sob um gênero e que o gênero predica essencialmente.
Gêneros e espécies formam uma árvore de predicação essencial das coisas. Exemplo:
- Substância
- Substância Material
- Substância Material Animada (ser vivo)
- Substância Material Animada Sensível (animais)
- Substância Material Animada Racional (homem)
- Substância Material Animada Irracional (besta)
- Substância Material Animada Insensível (plantas, etc…)
- Substância Material Animada Sensível (animais)
- Substância Material Inanimada (ser não-vivo)
- Substância Material Animada (ser vivo)
- Substância Imaterial
- Substância Material
Nesta árvore, Substância é o generalíssimo, enquanto Homem (ou Substância Material Animada Racional) é o especialíssimo. Enquanto as classes intermediárias são gêneros e espécies intermediárias. Cada classe intermediária é espécie dos gêneros anteriores e gênero das espécies posteriores.
Diferença
Diferença pode ser explicado com três significados:
- Comum:
- Quando algo se difere de si mesmo ou de outro de qualquer maneira.
- Modifica algo em qualidade (alloion)
- Diferença separável
- Próprio:
- Modifica algo em qualidade (alloion)
- Diferença inseparável per accidens
- Estrito (o que importa):
- Diferença específica
- Modifica algo em essência (allo)
- Diferença inseparável per se
- Não admitem variação de grau
- Produzem uma nova essência e definem a substância
Diferença específica
Definições:
- Diferença é aquilo que é predicado qualitativamente de muitas coisas que se diferem em espécie.
- Diferenças específicas são aquelas que tornam espécies diferentes e que são compreendidas na essência.
- Uma espécie é definida pelo seu gênero próximo adicionado da diferença específica.
Predicar qualitativamente quer dizer predicar o modo de ser. Enquanto predicar essencialmente responde a pergunta ”O que o homem é”, predicar qualitativamente responde a pergunta “Como o homem é”.
Exemplo:
- O que o homem é: substância; substância animada; animal.
- Como o homem é: racional; mortal; bípede.
Algumas dessas predicações qualitativas são diferenças específicas (predicam muitas coisas que se diferem em espécie). Portanto, elas precisam predicar essencialmente e dividir o gênero em espécies. Ou seja: elas falam algo sobre o modo de ser da coisa, e constituem a essência dela. Assim, racional é a diferença específica de homem, pois divide o homem da besta como espécie.
Propriedade
Propriedade pode ser explicado em vários sentidos
- No sentido amplo:
- O que ocorre apenas em uma espécie, embora não em todos os membros da espécie (e.g. a cura e a medição ocorrem no homem);
- O que ocorre em toda a espécie mas não apenas nela (e.g. bípede);
- O que ocorre em toda a espécie, somente nela, e em algum momento (e.g. ficar grisalho);
- No sentido estrito: (quando falamos no predicável propriedade, é este que importa)
- O que ocorre em toda a espécie, somente nela e sempre.
A propriedade no sentido estrito tem a propriedade da conversibilidade. Logicamente é um “se, e somente se”. Ou seja, se há uma propriedade, é possível saber que aquela essência está presente. Ex: a capacidade de relinchar. Se é um cavalo, há a capacidade de relinchar, e se há a capacidade de relinchar, sabemos que é um cavalo.
A propriedade pertence a espécie como um resultado que se segue de sua essência. Portanto, para ser uma propriedade:
- Exclusividade: Só pode ocorrer naquela espécie;
- Universalidade: Sempre acontece naquela espécie, em todos os indivíduos;
- Conversibilidade: Engloba os outros dois. A propriedade é aquilo que existe SE, e somente SE naquela espécie.
Acidente
O Acidente é aquilo que pode estar ou não estar na substância e não altera o que ela é. Acidente é sempre contingente na substância. Também é possível definir acidente como aquilo que não é gênero, espécie, diferença e propriedade.
O acidente pode ser inseparável ou separável. O acidente separável é um “estado” do indivíduo, enquanto o acidente inseparável é um “traço permanente”. O acidente inseparável só pode deixar de estar presente com uma transformação física “significativa” e “fora do comum”.
Estar bronzeado ou estar dormindo no homem são acidentes separáveis, enquanto bípede no homem ou preto no corvo são acidentes inseparáveis.
O mais importante: o acidente, como diferenciação da propriedade, não segue-se naturalmente da essência do sujeito. Enquanto a capacidade de rir é consequência da essência do ser humano (animal racional), dormir, apesar de ser observado em todos os humanos e biologicamente necessário para a espécie, não é uma consequência da racionalidade, e sim uma consequência do corpo material que o ser humano possui. Mas, logicamente, é possível conceber que existisse um animal racional que não dormisse. Além disso, por existir em mais de uma espécie, dormir não poderia ser propriedade.
Facilitando a diferenciação entre propriedade e acidente: O acidente inseparável admite variação de grau, enquanto a propriedade não. O acidente inseparável pode existir em várias espécies enquanto a propriedade não.