Contexto:
- Deus existe; Ele é o nosso criador.
- Deus em sua infinita bondade nos criou para compartilharmos de sua existência amorosa.
- Nós fomos feitos por Ele e para Ele; Então quando somos separados da comunhão com Deus pelo pecado original, isso deixa um vazio dentro de nós. (“Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti.”)
- Deus pode ser conhecido com certeza pela luz natural da inteligência humana, através de suas obras.
- Deus progressivamente Se revela ao homem, através das alianças com o povo de Israel e os patriarcas.
- Deus revela-Se plenamente e de forma final através do envio de Jesus Cristo, seu próprio Filho, que é Deus e Nosso Senhor. Não haverá revelação posterior.
74. Deus «quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1 Tm 2, 4), quer dizer, de Cristo Jesus (37). Por isso, é preciso que Cristo seja anunciado a todos os povos e a todos os homens, e que, assim a Revelação chegue aos confins do mundo:
Deus dispôs amorosamente que permanecesse íntegro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de todos os povos (38).
Comentários
Para a salvação dos homens, é necessário que o que se foi revelado não se corrompa, porque se fosse corrompido, não poderia servir para a salvação dos homens. Pontos empíricos que refutam o espantalho do “telefone sem fio”:
- Preservação do antigo testamento: comparação entre os textos Massorético (S. 11 DC) e Manuscritos do Mar Morto (S. 3 BC) demonstram uma incrível fidelidade
- Preservação do novo testamento: Acadêmicos que trabalham no campo de crítica textual moderna estão em consenso sobre o escritos originais do novo testamento em mais de 99% do texto. Até críticos, como Bart Ehrman (um agnóstico), concordam que não há essa dúvida sobre o que os escritos originais diziam.
- Abundância de manuscritos (em grego 5800, mais milhares de traduções para outras línguas)
- Fragmentos antigos do 125 DC, códices inteiros do 4 século
- < 1% das variações afeta significado, e nenhuma afeta alguma doutrina central
- Tem tantas citações e referências que é possível reconstruir só com as citações de autores como os pais da Igreja.
I. A Tradição apostólica
75. «Cristo Senhor, em quem toda a revelação do Deus altíssimo se consuma, tendo cumprido e promulgado pessoalmente o Evangelho antes prometido pelos profetas, mandou aos Apóstolos que o pregassem a todos, como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes, comunicando-lhes assim os dons divinos» (39).
Comentários
O que seriam esses dons divinos?
- O conhecimento da verdade salvífica; evangelho = boas notícias.
- Graças sobrenaturais: sacramentos que comunicam graça para o fiel
- Já compartilhar da vida divina aqui na terra ⇒ A vida santa é uma vida boa ⇒ Deus dá os mandamentos pois nos conhece e nos ama, e não para nos policiar.
A PREGAÇÃO APOSTÓLICA …
76. A transmissão do Evangelho, segundo a ordem do Senhor, fez-se de duas maneiras:
– oralmente, «pelos Apóstolos, que, na sua pregação oral, exemplos e instituições, transmitiram aquilo que tinham recebido dos lábios, trato e obras de Cristo, e o que tinham aprendido por inspiração do Espírito Santo»;
– por escrito, «por aqueles apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, escreveram a mensagem da salvação» (40).
Comentários
2 Ts 2:15 Permanecei, pois, constantes, irmãos, e conservai as tradições, que aprendestes, ou por nossas palavras (de viva voz) ou por nossa carta.
Ponto de diferença do Catolicismo pro Protestantismo: Sola Scriptura Protestantes vão afirmar que as Escrituras são a única regra infalível de fé. E que todos os ensinamentos necessários para a salvação seriam eventualmente escritos nas escrituras.
… CONTINUADA NA SUCESSÃO APOSTÓLICA
77. «Para que o Evangelho fosse perenemente conservado íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores, “entregando-lhes o seu próprio ofício de magistério”» (41). Com efeito, «a pregação apostólica, que se exprime de modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se, por uma sucessão ininterrupta, até à consumação dos tempos» (42).
Comentários
”entregando-lhes o seu próprio ofício de magistério” = Mt 28:19-20 Ide, pois, e ensinai todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei. Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo.
78. Esta transmissão viva, realizada no Espírito Santo, denomina-se Tradição, enquanto distinta da Sagrada Escritura, embora estreitamente a ela ligada. Pela Tradição, «a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo em que acredita» (43). «Afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja crente e orante» (44).
Comentários
Santos Padres != Papas, = Santos e Padres
79. Assim, a comunicação que o Pai fez de Si próprio, pelo seu Verbo, no Espírito Santo, continua presente e activa na Igreja: «Deus, que outrora falou, dialoga sem interrupção com a esposa do seu amado Filho; e o Espírito Santo – por quem ressoa a voz do Evangelho na Igreja, e, pela Igreja, no mundo – introduz os crentes na verdade plena e faz com que a palavra de Cristo neles habite em toda a sua riqueza» (45).
Comentários
Essa Tradição não é apenas conhecimento teológico, ela também diz respeito sobre como a fé é vivida:
- Os Credos.
- Forma dos sacramentos: exemplo batismo de crianças
- A Liturgia: da santa ceia → Novus Ordo
- Dogmas Marianos, exemplo: Assunção de Maria. Definido dogmaticamente em 1950, mas a crença já existia desde os tempos apostólicos. Tanto que grupos como Coptas (que se separam da Igreja em 451 DC, pós Calcedônia) e Ortodoxos (cisma do oriente, 1054) acreditam na assunção de Maria.
II. A relação entre a Tradição e a Sagrada Escritura
UMA FONTE COMUM…
80. «A Tradição sagrada e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim» (46). Uma e outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que prometeu estar com os seus, «sempre, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20).
Comentários
Um exemplo forte de como Sagrada Tradição e Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas: Canon da Bíblia.
… DUAS FORMAS DE TRANSMISSÃO DISTINTAS
81. «A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito divino».
«A sagrada Tradição, por sua vez, conserva a Palavra de Deus, confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, e transmite-a integralmente aos seus sucessores, para que eles, com a luz do Espírito da verdade, fielmente a conservem, exponham e difundam na sua pregação» (47).
82. Daí resulta que a Igreja, a quem está confiada a transmissão e interpretação da Revelação, «não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência» (48).
TRADIÇÃO APOSTÓLICA E TRADIÇÕES ECLESIAIS
83. A Tradição de que falamos aqui é a que vem dos Apóstolos. Ela transmite o que estes receberam do ensino e do exemplo de Jesus e aprenderam pelo Espírito Santo. De facto, a primeira geração de cristãos não tinha ainda um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento testemunha o processo da Tradição viva.
Comentários
Testemunho: os escritos mais antigos são as cartas de S. Paulo para Igrejas Cristãs já existentes.
É preciso distinguir, desta Tradição, as «tradições» teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais, nascidas no decorrer do tempo nas Igrejas locais. Elas constituem formas particulares, sob as quais a grande Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diferentes épocas. É à sua luz que estas podem ser mantidas, modificadas e até abandonadas, sob a direcção do Magistério da Igreja.
Comentários
tradições como liturgia, orações (rosário), etc…
III. A interpretação da herança da fé
A HERANÇA DA FÉ CONFIADA À TOTALIDADE DA IGREJA
84. O depósito da fé (49) («depositum fidei»), contido na Tradição sagrada e na Sagrada Escritura, foi confiado pelos Apóstolos ao conjunto da Igreja. «Apoiando-se nele, todo o povo santo persevera unido aos seus pastores na doutrina dos Apóstolos e na comunhão, na fracção do pão e na oração, de tal modo que, na conservação, actuação e profissão da fé transmitida, haja uma especial concordância dos pastores e dos fiéis» (50).
Comentários
depósito da fé = todas as verdades reveladas divinamente por Deus Concordância dos pastores e dos fiéis:
- Os pastores (o magistério) preservam a fé transmitindo e interpretando corretamente a fé.
- Os fiéis preservam a fé acolhendo o que foi ensinado e vivendo.
O MAGISTÉRIO DA IGREJA
85. «O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, escrita ou contida na Tradição, foi confiado só ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo (51), isto é, aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma.
Comentários
Ponto de diferença entre Catolicismo e Protestantismo. No Protestantismo, acredita-se que a interpretação da Palavra de Deus pode ser autenticamente feita por cada fiel individualmente através do guia do Espírito Santo. Algumas denominações protestantes (Luteranos, Anglicanos) dão mais ênfase para o magistério da Igreja como ensinamentos de Concílios Ecumênicos, mas vão dizer que estes são falíveis.
86. «Todavia, este Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando apenas o que foi transmitido, enquanto, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, a ouve piamente, a guarda religiosamente e a expõe fielmente, haurindo deste depósito único da fé tudo quanto propõe à fé como divinamente revelado» (52).
87. Os fiéis, lembrando-se da palavra de Cristo aos Apóstolos: «Quem vos escuta escuta-me a Mim» (Lc 10, 16) (53), recebem com docilidade os ensinamentos e as directrizes que os seus pastores lhes dão, sob diferentes formas.
OS DOGMAS DA FÉ
88. O Magistério da Igreja faz pleno uso da autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando propõe, dum modo que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, verdades contidas na Revelação divina ou quando propõe, de modo definitivo, verdades que tenham com elas um nexo necessário.
Comentários
Concílio de Niceia I (325):
- Combate heresia Ariana que dizia que Jesus não era Deus
- Define dogma de que Jesus é Deus, consubstancial ao Pai Concílio de Éfeso (431):
- Combate heresia Nestoriana que Cristo eram duas pessoas, uma humana e uma divina. Ele negava que o Verbo incarnou na concepção de Jesus, e sim em um processo posterior.
- Portanto Nestorio vai negar que Maria é Mãe de Deus (Theotokos).
- Define dogma de que Jesus é uma pessoa, com duas naturezas, uma divina e outra humana.
- Portanto (verdade que tem nexo necessário): Maria é mãe de Deus (Theotokos)
89. Existe uma ligação orgânica entre a nossa vida espiritual e os dogmas. Os dogmas são luzes no caminho da nossa fé: iluminam-no e tornam-no seguro. Por outro lado, se a nossa vida for recta, a nossa inteligência e nosso coração estarão abertos para acolher a luz dos dogmas da fé (54).
Comentários
Iluminam o caminho:
- Posso rezar para Santos?
- Cristo está presente na Eucaristia?
- Aborto é pecado? Contracepção é pecado?
90. A interligação e a coerência dos dogmas podem encontrar-se no conjunto da revelação do mistério de Cristo (55). Convém lembrar que «existe uma ordem ou “hierarquia” das verdades da doutrina católica, já que o nexo delas com o fundamento da fé cristã é diferente» (56).
Comentários
Exemplo de hierarquia:
- Santíssima Trindade, Incarnação do Verbo, Ressurreição Corporal de Cristo
- Maria como Theotókos, Presença Real de Cristo na Eucaristia
- Sucessão apostólica → Magistério da Igreja → Infalibilidade Papal
O SENTIDO SOBRENATURAL DA FÉ
91. Todos os fiéis participam na compreensão e na transmissão da verdade revelada. Todos receberam a unção do Espírito Santo que os instrui (57) e os conduz «à verdade total» (Jo 16, 13).
92. «A totalidade dos fiéis […] não pode enganar-se na fé e manifesta esta sua propriedade peculiar por meio do sentir sobrenatural da fé do povo todo, quando, “desde os bispos até ao último dos fiéis leigos”, exprime consenso universal em matéria de fé e costumes» (58).
93. «Com este sentido da fé, que se desperta e sustenta pela acção do Espírito de verdade, o povo de Deus, sob a direcção do sagrado Magistério […] adere indefectivelmente à fé, uma vez por todas confiada aos santos; penetra-a mais profundamente com juízo acertado e aplica-a mais totalmente na vida» (59).
O CRESCIMENTO NA INTELIGÊNCIA DA FÉ
94. Graças à assistência do Espírito Santo, a inteligência das realidades e das palavras do depósito da fé pode crescer na vida da Igreja:
– «Pela contemplação e pelo estudo dos crentes, que as meditam no seu coração» (60); e particularmente pela «investigação teológica, que aprofunda o conhecimento da verdade revelada» (61).
– «Pela inteligência interior das coisas espirituais que os crentes experimentam» (62); _«_Divina eloquia cum legente crescunt» – «As palavras divinas crescem com quem as lê» (63).
– «Pela pregação daqueles que receberam, com a sucessão episcopal, um carisma certo da verdade» (64).
Comentários
Desenvolvimento da Doutrina / Evolução do Dogma: O depósito da fé não muda, mas o conhecimento pode ser aprofundado e melhor definido. Como uma árvore que começa como uma semente e se desenvolve, é o mesmo ser vivo, mas desenvolvido.
Esse desenvolvimento acontece tanto pela razão e estudos quando pela oração e pela contemplação
95. «É claro, portanto, que a sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, segundo um sapientíssimo desígnio de Deus, estão de tal maneira ligados e conjuntos, que nenhum pode subsistir sem os outros e, todos juntos, cada um a seu modo, sob a acção do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas» (65).
Comentários
Portanto, temos o tripé firme que a Igreja se assenta:
- Sagradas Escrituras
- Sagrada Tradição
- Sagrado Magistério
Os dois primeiros dizem respeito aos meios de transmissão da fé pelo tempo e o terceiro é o guardião vivo que protege esses meios e preserva a verdade.
Resumindo:
96_._ O que Cristo confiou aos Apóstolos, estes o transmitiram, pela sua pregação e por escrito, sob a inspiração do Espírito Santo, a todas as gerações, até à vinda gloriosa de Cristo.
97. «A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um único depósito sagrado da Palavra de Deus» (66), no qual, como num espelho, a Igreja peregrina contempla Deus, fonte de todas as suas riquezas.
98_._ «Na sua doutrina, vida e culto, a Igreja perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é, tudo aquilo em que acredita» (67).
99_._ Graças ao sentido sobrenatural da fé, o povo de Deus, no seu todo, não cessa de acolher o dom da Revelação divina, de nele penetrar mais profundamente e de viver dele mais plenamente.
100. O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus foi confiado unicamente ao Magistério da Igreja, ao Papa e aos bispos em comunhão com ele.