Resumo

Neste trecho do diálogo Platônico, Mênon questiona Sócrates sobre o que é virtude, mas Sócrates não sabe a resposta e propõe que os dois investiguem esta questão.

Mênon então propõe um problema epistemológico: como podem os dois realizarem uma investigação sobre um tema que eles não tem conhecimento, e como saberiam que chegaram no lugar onde desejavam?

Sócrates responde a esta questão expondo a doutrina da imortalidade da alma, da reencarnação, e da lembrança. Estas doutrinas permitiriam que um homem tivesse uma resposta para uma questão que inicialmente ele não tem através do esforço de se lembrar de um conhecimento já adquirido previamente (em outras vidas) que está na alma.

Ele demonstra essas doutrinas através de uma investigação com um servo do Mênon que não tinha conhecimentos de geometria, mas através de perguntas feitas por Sócrates, chega ele mesmo a conclusões verdadeiras. Como o menino não teve instrução ou aprendizado prévio sobre geometria, isto demonstra que ele chegou à essas conclusões verdadeiras através da “lembrança” de um conhecimento que estava na alma, que portanto, é imortal.

Sócrates diz que não tem total certeza sobre essas doutrinas, mas que elas tem um grande valor utilitário em promover e incentivar a busca do conhecimento.

Crítica

A demonstração proposta por Sócrates não é suficiente para provar as doutrinas que ele expõe. É possível explicar o fenômeno demonstrado de outras maneiras:

  1. O método utilizado pode ser só uma alternativa ao método expositivo, mas de certo modo, ainda sim seria uma transferência de conhecimento do professor (Sócrates) que detém o conhecimento do tema e portanto sabe as falhas cometidas pelo aluno e faz questões que induzem o aluno na direção certa.
  2. É possível que a aquisição do conhecimento tenha se dado naquele momento, mas fruto da razão e inferência do menino, o que implicaria na existência da razão e da inferência antes daquela conversa, mas seria por si só um processo que é capaz de gerar novo conhecimento.

Texto

SÓCRATES: Você é um patife, Mênon, e quase me pegou.

MÊNON: O que você quer dizer, Sócrates?

SÓCRATES: Sei porque você fez uma comparação sobre mim.

MÊNON: Por quê?

SÓCRATES: Para que eu possa fazer outra comparação sobre você. Pois sei que todos os jovens bonitos gostam que façam comparações bonitas sobre eles – e é bom que o façam – mas não vou retribuir o elogio. Quanto ao fato de eu ser uma raia elétrica, se a raia elétrica é pasma e também a causa de os outros ficarem pasmados, então, de fato, sou uma raia elétrica, mas não de outra forma; pois deixo os outros perplexos, não porque sou inteligível, mas porque eu mesmo estou totalmente perplexo. E agora não sei o que é virtude, e você parece estar no mesmo caso, embora talvez já soubesse antes de me tocar. No entanto, não me oponho a me juntar a você na investigação.

MÊNON: E como você investigará, Sócrates, aquilo que não conhece? O que vai apresentar como tema de investigação? E se encontrar o que deseja, como saberá que isso é o que não sabia? 1

SÓCRATES: Eu sei, Mênon, o que você quer dizer; mas veja que discussão cansativa você está apresentando. Você argumenta que um homem não pode perguntar nem sobre o que ele sabe, nem sobre o que não sabe; pois se sabe, não tem necessidade de perguntar; e se não sabe, não pode perguntar; pois não sabe o próprio assunto sobre o qual deve perguntar. 2 3

MÊNON: Bem, Sócrates, e o argumento não é sólido?

SÓCRATES: Acho que não.

MÊNON: Por que não?

SÓCRATES: Vou lhe dizer por quê: Ouvi de certos homens e mulheres sábios que falavam de coisas divinas.

MÊNON: O que disseram?

SÓCRATES: Falaram de uma verdade gloriosa, como eu a entendo.

MÊNON: O que era? E quem eram eles?

SÓCRATES: Alguns deles eram sacerdotes e sacerdotisas, que haviam estudado como poderiam justificar sua profissão: também houve poetas que falaram sobre essas coisas por inspiração, como Píndaro e muitos outros que foram inspirados. E eles dizem – observe agora e veja se suas palavras são verdadeiras – dizem que a alma do homem é imortal, e em certo momento tem um fim, que é chamado de morte, e em outro momento nasce novamente, mas nunca é destruída.

E a moral é que um homem deve viver sempre da maneira mais pia possível.

“Pois, no nono ano, Perséfone envia as almas daqueles de quem ela recebeu o pagamento do crime antigo de volta da Terra para a luz do Sol acima, e esses são os que se tornam nobres reis e homens poderosos e grandes em sabedoria, e são chamados de heróis santos nas eras posteriores.”

A alma, portanto, por ser imortal, e por ter nascido de novo muitas vezes e ter visto todas as coisas que existem, seja neste mundo ou no mundo subterrâneo, tem conhecimento de todas elas; e não é de se admirar que ela seja capaz de se lembrar de tudo o que sempre soube sobre virtude, e sobre tudo o mais; pois como toda a natureza é semelhante, e a alma aprendeu todas as coisas, não há dificuldade em que ela extraia ou, como dizem os homens, aprenda, a partir de uma única lembrança – todo o resto, se o homem for esforçado e não desanimar; pois toda investigação e todo aprendizado não passam de lembrança.

E, portanto, não devemos dar ouvidos a esse argumento sofístico sobre a impossibilidade de investigação, pois ele nos tornará ociosos e é agradável apenas para os preguiçosos; mas o outro argumento nos tornará ativos e curiosos. Nessa confiança, terei prazer em investigar com você a natureza da virtude. 4

MÊNON: Sim, Sócrates; mas o que você quer dizer ao afirmar que não aprendemos e que o que chamamos de aprendizado é apenas um processo de recordação? Pode me ensinar como isso acontece?

SÓCRATES: Eu lhe disse, Mênon, há pouco, que você era um patife, e agora você pergunta se posso ensiná-lo, quando estou dizendo que não há ensino, mas apenas lembrança; e assim imagina que vai me fazer cair em uma contradição.

MÊNON: De fato, Sócrates, protesto que não tive essa intenção. Só fiz a pergunta por hábito; mas se puder me provar que o que diz é verdade, gostaria que o fizesse.

SÓCRATES: Não será fácil, mas tentarei satisfazê-lo o máximo que puder. Chame um de seus numerosos assistentes, para que eu possa demonstrar com ele.

MÊNON: Com certeza. Venha até aqui, rapaz.

SÓCRATES: Ele é grego, e fala grego, não é?

MÊNON: Sim, de fato; nasceu na casa.

SÓCRATES: Preste atenção agora às perguntas que lhe faço e observe se ele aprende comigo ou apenas se lembra. [^N4]

MÊNON: Vou observar.

SÓCRATES: Diga-me, menino, você sabe que uma figura como esta é um quadrado?

MENINO: Sei.

SÓCRATES: E sabe que uma figura quadrada tem estas quatro linhas iguais?

MENINO: Com certeza.

SÓCRATES: E estas linhas que tracei no meio do quadrado também são iguais?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: Um quadrado pode ser de qualquer tamanho?

MENINO: Com certeza.

SÓCRATES: E se um lado da figura for de dois metros, e o outro lado for de dois metros, quanto será o todo? Deixe-me explicar: se em uma direção a distância fosse de dois metros, e na outra direção de um metro, o todo seria de dois metros quadrados tomados de uma vez?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: Mas como este lado também tem dois metros, há duas vezes dois metros?

MENINO: Há.

SÓCRATES: Então o quadrado tem o dobro de dois metros?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: E quantos são duas vezes dois metros? Calcule e me diga.

MENINO: Quatro, Sócrates.

SÓCRATES: E não poderia haver outro quadrado duas vezes maior que este, e que tivesse as linhas iguais a este?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: E de quantos metros quadrados será?

MENINO: De oito metros quadrados.

SÓCRATES: E agora tente me dizer o comprimento da linha que forma o lado desse quadrado que é o dobro: a linha do quadrado original tem dois metros – quanto será a linha do quadrado que é o dobro?

MENINO: Claramente, Sócrates, a linha será o dobro.

SÓCRATES: Observe, Mênon, que não estou ensinando nada ao menino, mas apenas lhe fazendo perguntas; e agora ele acha que sabe o comprimento da linha necessária para produzir uma figura de oito metros quadrados, não é?

MÊNON: Sim.

SÓCRATES: E sabe mesmo?

MÊNON: Certamente que não.

SÓCRATES: Ele apenas supõe que, como o quadrado é o dobro, a linha é o dobro.

MÊNON: É verdade.

SÓCRATES: Observe-o enquanto ele relembra os passos em ordem regular.
(Para o menino) Diga-me, menino, você afirma que uma área dupla vem de uma linha dupla? Lembre-se de que não estou falando de uma figura com linhas desiguais, mas de uma figura igual em todos os sentidos e com o dobro do tamanho desta – ou seja, de oito metros quadrados; e quero saber se você ainda diz que um quadrado duplo vem de uma linha dupla?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: Mas esta linha não se torna o dobro se adicionarmos outra linha semelhante aqui?

MENINO: Com certeza.

SÓCRATES: E quatro dessas linhas formarão uma área de oito metros quadrados?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: Vamos descrever essa figura: você não diria que essa é a figura de oito metros quadrados?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: E não há essas quatro divisões na figura, cada uma das quais é igual à figura de quatro metros quadrados?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: E isso não é quatro vezes quatro?

MENINO: Com certeza.

SÓCRATES: E quatro vezes não é o dobro?

MENINO: Não, de fato.

SÓCRATES: Mas quanto?

MENINO: Quatro vezes mais.

SÓCRATES: Portanto, a linha dupla, menino, resultou em uma área, não duas vezes, mas quatro vezes maior.

MENINO: É verdade.

SÓCRATES: Quatro vezes quatro são dezesseis – não são?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: Que linha lhe daria uma área de oito metros quadrados, como esta dá uma área de dezesseis metros quadrados? Entende?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: E a área de quatro metros quadrados é feita a partir desta meia linha?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: Bom; e uma área de oito metros quadrados não é o dobro do tamanho desta e a metade do tamanho da outra?

MENINO: Com certeza.

SÓCRATES: Essa área, então, será formada por uma linha maior do que esta e menor do que aquela?

MENINO: Sim, acho que sim.

SÓCRATES: Muito bem; gosto de ouvi-lo dizer o que acha. E agora me diga, esta não é uma linha de dois metros e aquela de quatro?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: Então a linha que forma o lado da área de oito metros quadrados deve ser maior do que essa linha de dois metros e menor do que a outra de quatro metros?

MENINO: Deveria.

SÓCRATES: Tente ver se você consegue me dizer quanto será.

MENINO: Três metros.

SÓCRATES: Então, se adicionarmos metade a esta linha de dois, essa será a linha de três. Aqui estão dois e mais um; e do outro lado, aqui também estão dois e mais um: e isso faz a figura da qual você está falando?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: Mas se houver três metros para cá e três metros para lá, a área toda será três vezes três metros?

MENINO: Isso é evidente.

SÓCRATES: E quanto são três vezes três metros?

MENINO: Nove.

SÓCRATES: E quanto é o dobro de quatro?

MENINO: Oito.

SÓCRATES: Então a figura de oito metros quadrados não é feita a partir de uma linha de três metros?

MENINO: Não.

SÓCRATES: Mas a partir de qual linha? – Diga-me exatamente; e se preferir não fazer contas, tente me mostrar a linha.

MENINO: De fato, Sócrates, não sei.

SÓCRATES: Você vê, Mênon, que avanços ele fez em seu poder de recordação? No início, não sabia, e não sabe agora, qual é o lado de uma figura de oito metros quadrados: mas antes achava que sabia, e respondia com confiança como se soubesse, e não tinha dificuldade; agora tem uma dificuldade, e não sabe nem imagina que sabe. 5

MÊNON: É verdade.

SÓCRATES: Ele não está melhor, sabendo de sua ignorância?

MÊNON: Acho que sim.

SÓCRATES: Se o fizemos duvidar e lhe demos o “choque da raia elétrica”, fizemos algum mal a ele?

MÊNON: Acho que não.

SÓCRATES: Certamente, ao que parece, nós o ajudamos em algum grau a descobrir a verdade; e agora desejará remediar sua ignorância, mas antes estava pronto para dizer a todo o mundo, repetidas vezes, que a área dupla deveria ter um lado duplo.

MÊNON: É verdade.

SÓCRATES: Mas você acha que ele alguma vez teria perguntado ou aprendido o que imaginava que sabia, embora fosse realmente ignorante, até que tivesse caído em perplexidade com a ideia de que não sabia e desejava saber? 6

MÊNON: Acho que não, Sócrates.

SÓCRATES: Então ele ficou melhor com o toque da raia elétrica?

MÊNON: Creio que sim.

SÓCRATES: Observe agora o desenvolvimento posterior. Somente perguntarei a ele, e não o ensinarei, e ele compartilhará a investigação comigo. Observe e veja se você me vê contando ou explicando alguma coisa para ele, em vez de obter sua opinião. Diga-me, menino, este não é um quadrado de quatro metros quadrados que desenhei? 7

MENINO: Sim.

SÓCRATES: E agora acrescento outro quadrado igual ao anterior?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: E um terceiro, que é igual a qualquer um deles?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: Suponha que preenchamos o canto vago?

MENINO: Muito bem.

SÓCRATES: Aqui, então, há quatro áreas iguais?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: E quantas vezes maior é esta área do que a outra?

MENINO: Quatro vezes.

SÓCRATES: Mas deveria ter sido apenas duas vezes, como você deve se lembrar.

MENINO: É verdade.

SÓCRATES: E essa linha, que vai de canto a canto, não divide cada uma dessas áreas?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: E não há aqui quatro linhas iguais que contêm essa área?
MENINO: Há sim.

SÓCRATES: Repare e veja quanto é essa área.

MENINO: Não estou entendendo.

SÓCRATES: Cada linha interna não cortou metade das quatro áreas?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: E quantas áreas há nesta seção?

MENINO: Quatro.

SÓCRATES: E quantas nessa seção?

MENINO: Duas.

SÓCRATES: E quatro é quantas vezes dois?

MENINO: Duas vezes.

SÓCRATES: E essa área é de quantos metros?

MENINO: De oito metros quadrados.

SÓCRATES: E de que linha você tirou esse número?

MENINO: A partir desta.

SÓCRATES: Ou seja, a partir da linha que se estende de canto a canto da figura de quatro metros quadrados?

MENINO: Sim.

SÓCRATES: E essa é a linha que os sábios chamam de diagonal. E se esse é o nome correto, então está você, escravo de Mênon, preparado para afirmar que a área dupla é o quadrado construído com a diagonal?

MENINO: Com certeza, Sócrates.

SÓCRATES: O que você diz dele, Mênon? Todas essas respostas não foram dadas a partir de sua própria cabeça?

MÊNON: Sim, todas foram dadas por ele mesmo.

SÓCRATES: E, no entanto, como estávamos dizendo agora, ele não sabia?

MÊNON: É verdade.

SÓCRATES: Mas ainda assim tinha essas noções dentro de si – não tinha? 8

MÊNON: Sim.

SÓCRATES: Então aquele que não sabe ainda pode ter noções verdadeiras daquilo que não sabe?

MÊNON: Ele tem.

SÓCRATES: E, no momento, essas noções acabaram de ser despertadas nele, como em um sonho; mas se lhe fizessem frequentemente as mesmas perguntas, de formas diferentes, ele saberia tão bem quanto qualquer outra pessoa no final?

MÊNON: Ouso dizer que sim.

SÓCRATES: Sem que ninguém o ensine, recuperará seu conhecimento por si mesmo, se apenas lhe fizerem perguntas?

MÊNON: Sim.

SÓCRATES: E essa recuperação espontânea do conhecimento nele é recordação?

MÊNON: É verdade.

SÓCRATES: E esse conhecimento que ele tem agora deve ter ou sido adquirido ou sempre possuído?

MÊNON: Sim.

SÓCRATES: Mas se ele sempre possuísse esse conhecimento, sempre teria sabido; ou se adquiriu o conhecimento, não poderia tê-lo adquirido nesta vida, a menos que lhe tenham ensinado geometria; pois ele pode ser levado a fazer o mesmo com toda a geometria e todos os outros ramos do conhecimento. Agora, alguém já lhe ensinou tudo isso? Você deve saber sobre ele, se, como você diz, nasceu e foi criado em sua casa.

MÊNON: E tenho certeza de que ninguém jamais o ensinou.

SÓCRATES: E mesmo assim ele tem o conhecimento?

MÊNON: O fato, Sócrates, é inegável.

SÓCRATES: Mas se não adquiriu o conhecimento nesta vida, então deve tê-lo tido e aprendido em algum outro momento?

MÊNON: É claro que sim.

SÓCRATES: Que deve ter sido o tempo em que não era um homem?

MÊNON: Sim.

SÓCRATES: E se sempre houve pensamentos verdadeiros nele, tanto na época em que era quanto na época em que não era um homem, que só precisavam ser despertados para o conhecimento por meio de perguntas a ele, sua alma deve ter sempre possuído esse conhecimento, pois ele sempre ou foi ou não foi um homem?

MÊNON: Obviamente.

SÓCRATES: E se a verdade de todas as coisas sempre existiu na alma, então a alma é imortal. Portanto, tenha bom ânimo e tente se lembrar do que você não sabe, ou melhor, do que você não se lembra. 9

MÊNON: Sinto, de alguma forma, que gosto do que você está dizendo.

SÓCRATES: E eu, Mênon, gosto do que estou dizendo. Eu disse algumas coisas das quais não estou totalmente confiante. Mas o fato de que seremos melhores, mais corajosos e menos impotentes se pensarmos que devemos perguntar, do que seríamos se nos entregássemos à fantasia ociosa de que não há conhecimento e não há utilidade em procurar saber o que não sabemos – esse é um tema sobre o qual estou pronto para lutar, em palavras e ações, até o máximo da minha capacidade. 10

MÊNON: Mais uma vez, Sócrates, suas palavras me parecem excelentes.

SÓCRATES: Então, como concordamos que um homem deve se informar sobre aquilo que não conhece, quer que nos esforcemos para nos informarmos juntos sobre a natureza da virtude?

Footnotes

  1. Mênon faz um questionamento epistemológico: como podemos investigar algo que não sabemos?

  2. Nota: Isso me parece um espantalho do argumento do Mênon que é bem legítimo: Caso se chegue a alguma conclusão, como saber que ela é a verdade? Ainda mais, Sócrates aqui ataca de modo utilitário a discussão: “discussão cansativa”, porém isso por si só não tornaria o argumento inválido.

  3. Sócrates declara um problema da abordagem de Mênon que ela impossibilitaria discussões investigativas.

  4. Sócrates expõe a doutrina da imortalidade da alma e do aprendizado como lembrança: como a alma é imortal e morre e nasce várias vezes, ela já contém todo o aprendizado de vidas passadas, e o aprendizado é senão extrair esta lembrança da alma.

  5. N: Sócrates coloca uma contradição entre “aprender” e “apenas lembrar”.

  6. N: Aqui aparece um problema com o método: como o menino, ignorante de seu erro, poderia passar a conhecê-lo? Volta-se ao problema inicial que Mênon colocou: como saber o que é o tema de investigação e como saber que se chegou lá.

  7. “Somente perguntarei a ele, e não o ensinarei”: novamente a contraposição entre ensinar e perguntar (antes aprender v. lembrar). Parece-me que é justamente o processo das perguntas que gera o aprendizado, mesmo não sendo um processo expositivo.

  8. Essas “noções” parecem ser simplesmente razão e inferência.

  9. Sócrates usa um servo do Mênon que não era estudado em Geometria para demonstrar o seu ponto de que o conhecimento não é aprendido, mas lembrado. A demonstração ocorre com o Sócrates auxiliando o menino a chegar a conclusões geométricas verdadeiras não pelo ensino expositivo, mas através de perguntas que o permitem chegar às conclusões por si próprio, mostrando que na verdade o menino “lembrou” este conhecimento de uma vida anterior.

  10. Sócrates diz não estar totalmente confiante nestas doutrinas, mas elas tem um poderoso efeito utilitário: o de incentivar a busca do conhecimento.