Ontem (20 de setembro), um querido amigo meu convidou-me a assistir um filme de horror que estava estreando naquele dia. Confesso que não sou cinéfilo, e nem me proponho a ser. Se tiver assistido mais de quatro filmes esse ano será muito. Portanto, aceitei pelo rolê e pela companhia, e que bom que o fiz, que filme excepcional. Daqueles de explodir a cabeça e te deixarem extático. Saí da sala de cinema até com vontade de assistir mais filmes.

Esse artigo contém muitos spoilers, e vai fazer mais sentido se você tiver visto o filme.

Proponho-me a defender uma interpretação heterodoxa sobre o filme. A maioria das críticas que li interpretam o filme como uma crítica ao tratamento da indústria de entretenimento e aos padrões de beleza, e creio que estão certos, mas superficialmente. Em The Substance, Coralie Farge, intencionalmente ou não cria uma obra profundamente Católica, que demonstra de forma clara o itinerário do orgulho e os efeitos do pecado na alma humana.

O Itinerário do Orgulho é um conceito descrito por Salvador Canals em seu livro de ascética Reflexões Espirituais. O orgulho é a estima desmedida que temos de nós mesmos, é o desejo desordenado pela exaltação própria, e a recusa da dependência de qualquer coisa exterior (a mais importante delas sendo Deus).

O itinerário do orgulho é o rastro destrutivo que o cultivo do orgulho gera em nossas vidas. O itinerário começa na vida interior, na atribuição de todas as qualidades e tudo o que temos a nós mesmos, exclusivamente.

Ele então, continua para o mundo exterior. A pessoa que cultiva o orgulho tem dificuldade de olhar para qualquer horizonte de outras pessoas como pessoas. As outras pessoas são objetos para seu engrandecimento, servem para uma comparação vil que não admite um outro superior. Tudo e todos precisam ser inferiores, para que seus defeitos sejam motivos de auto-engrandecimento.

Em seus estágios mais avançados, o orgulho progride para a inveja e inimizade. Como não suporte a possibilidade de qualquer outro superior, começa a invejar e desprezar qualquer outro que tenha alguma qualidade superior à própria.

Por fim, o itinerário do orgulho termina no fingimento e hipocrisia. Tem que se fingir ser aquilo que não é e exagerar o que possui. Tudo é permitido, desde que o interessado seja a própria pessoa e sua imagem na estima dos outros. Para mim, não há descrição mais clara do que acontece com Elisabeth Sparkles do que o itinerário do orgulho.

Elisabeth Sparkles é uma atriz de sucesso. O filme começa mostrando a construção da calçada da fama dela, e, logo depois, Elisabeth jovem na inauguração, dançando em cima e fazendo poses para uma multidão de fotógrafos que a rodeiam. Seguindo essa cena, prosseguimos a ver o desgaste de sua calçada pelos fatores externos: chuva, neve, pessoas pisando em cima, derrubando coisas, entre outros, e vemos a progressiva degradação da calçada.

Corta para finalmente conhecermos quem é Elisabeth. Elisabeth está com 50 anos, em boa forma e bonita, e apresenta um programa fitness matinal. O programa tem uma estética e vibe “vintage”. Ela termina o programa e vai em direção a seu camarim, passando por um corredor que é uma espécie de hall da fama. As duas paredes do corredor estão cheias de suas imagens como propaganda dos programas que ela apresentou durante sua carreira, e Elisabeth passa pelo corredor admirando a sua própria imagem.

Ao ir ao banheiro, o banheiro feminino está interditado e ela entra no masculino, que está vazio, e ela se tranca em uma cabine. Durante esse tempo, o seu produtor entra no banheiro enquanto fala ao telefone. Logo se percebe que o assunto da ligação é a própria Elisabeth, e o produtor, que é um porco de homem, está falando como eles precisam de uma nova apresentadora, jovem, bonita, gostosa, e superior, e que Elisabeth já estaria acabada demais para o seu papel.

A perspectiva de ser substituída afeta profundamente Elisabeth, que voltando para casa, ao ver trabalhadores rasgando uma imagem de seu rosto em um outdoor que eles estavam trocando a imagem, se envolve um terrível acidente de carro. Elisabeth vai parar no hospital, mas milagrosamente, ela não quebrou nenhum osso e não teve nenhum ferimento substancial.

Através de um pendrive que o enfermeiro coloca no bolso do casaco de Elisabeth, ela é apresentada à proposta central do filme: A Substância permite durante 7 a cada 14 dias viver em um corpo mais jovem, mais bonito, mais perfeito. Uma proposta que é uma tentação no íntimo mais sensível à pessoa orgulhosa que Elisabeth é. Esse trailer tem um trecho da proposta: https://www.youtube.com/watch?v=U-RxVJrLKrk

Elisabeth joga o pendrive no lixo, mas naquela noite ela vai a um bar afogar sozinha suas mágoas em álcool, a ponto de ter que abraçar o vaso para vomitar a meia dúzia de Martinis que ela virou. No breve momento que ele reganha a sua consciência, ela se sente fracassada e envergonhada, sentimentos marca registrada do Satanás que usa esses sentimentos para levar as almas ao pecado e, mais importante, a permanecerem lá. A vergonha foi usada já em Gênesis 3, quando, após comerem o fruto proibido, Adão e Eva se esconderam de Deus. Orgulho, intemperança e vergonha juntos: ocasião de pecado maior nunca foi pensada. Elisabeth então se sujeita revirar seu lixo para procurar o pendrive que horas antes havia jogado fora, e então aceita a proposta.

Elisabeth se sujeita a todo o processo de coleta do material que é duvidoso que necessita que ela vá a um beco extremamente sujo e destruído e se rasteje para passar pela fresta da porta que se abre.

O funcionamento da Substância possui diversas partes. A primeira é a ativação, que, do corpo “Matriz” surgirá o “Outro eu”. Após ativado, apenas um dos corpos ficará ativo. O outro ficará em um estado de hibernação até acontecer a troca novamente. As regras são bem explícitas da necessidade de sempre trocar de 7 em 7 dias, sem exceção. O “Outro Eu” que é a versão mais perfeita, precisa de uma substância estabilizadora que é extraída do corpo Matriz.

Ela então injeta a ativação, que diz que só deve ser usado uma única vez, e a partir de seu corpo, emerge um outro corpo, emerge a Sue. A primeira coisa que Sue faz é se admirar no espelho. É martelado na tecla de que Elisabeth e Sue são uma pessoa só, ao mesmo tempo, não é claro se elas compartilham uma mesma memória. A persona Elisabeth agora representa a sua alma e o seu estado, e Sue é a personificação do seu orgulho e vida de pecado.

Sue começa sua jornada participando de uma audiência para selecionar quem será a próxima Elisabeth Sparkles, e é contratada. A estética do filme muda um pouco quando Sue entra em cena. As cores usadas por Sue são mais saturadas e vívidas, suas roupas mais provocantes, a música mais impactante (punchy).

Sue então começa o seu programa que se apresenta como um programa fitness matinal, mas na realidade é um soft-porn, que explora sua beleza e juventude, tornando-a em nada mais do que um objeto sexual. Mas o orgulho não se importa com isso, pelo contrário, isso alimenta o seu desejo desordenado que adora a atenção, os olhares e estima alheia. Lembre-se do itinerário do orgulho: Tudo é permitido, desde que o interessado seja a própria pessoa e sua imagem na estima dos outros.

A primeira semana de Sue continua e ela sai para a farra no último dia antes da troca. Com a má companhia de seus novos amigos, provavelmente também afundados no orgulho, ela vai para a farra, e impulsionada pela bebedeira, ela leva um cara a seu apartamento, pecando contra a castidade.

Por conta dessa noite, ela atrasa a troca, o que causa consequências visíveis sobre a persona Elisabeth, que tem um dedo de sua mão transformado como se ela tivesse 90 anos, com artrite, feio, desidratado, com falta de movimento. Isso leva Elisabeth ao desespero. Ela se achava velha e é por isso que tomou a substância, mas agora ela realmente e objetivamente tem um traço de uma pessoa velha. O pequeno pecado cometido (por Sue) causa danos reais a sua alma (representada por Elisabeth).

Sendo uma alma já afundada no pecado, Elisabeth procura resolver seu problema com mais pecado. Ela decide marcar um encontro com Fred, um colega de escola que ela nem lembrava mais, mas a reconheceu anteriormente no filme e demonstrou que ainda gostava dela, dizendo que ela ainda era “a mulher mais bonita do mundo”. Mas, novamente, orgulho. Afundada no ensimesmamento, não existe horizonte de outras pessoas, Fred é usado apenas como objeto para seu engrandecimento, e logo é descartado.

Ela então se arruma, passa maquiagem, uma roupa sexy e está muito bonita. Mas saindo de casa, ela se confronta com o outdoor com a imagem de Sue pela usa janela e volta ao banheiro e refaz a sua maquiagem, mexe na roupa. Ela está tentando mudar sua aparência para se parecer a Sue, mas não consegue, tem raiva e desiste do encontro.

É claro que o problema não é a sua aparência real, mas a visão desordenada que ela tem dela mesmo. Isso fica claro quando ela está quase saindo de casa, mas desiste quando vê e contempla sua aparência distorcida no reflexo da maçaneta: é como ela está se enxergando. Ela desconta sua raiva e frustração na gula (outro pecado). A sua imagem desordenada de si mesmo leva ela a uma desordem na comida, que faz ela comer um frango inteiro.

Ela gasta os seus 7 dias fazendo nada a não ser bagunça e comer desordenadamente. Traços depressivos também são facilmente observados. E isso referencia o que o Enfermeiro/Homem velho diz para ela no restaurante: “é difícil acreditar que você merece existir” e “ela já começou? ela já está te corroendo?”. E a resposta que Elisabeth sabe em seu coração mas não quer admitir quando o velho diz isso é um grandiosíssimo sim. Sue, personificação do orgulho e representante da vida de pecado, está corroendo Elisabeth, fisicamente, emocionalmente e psicologicamente.

E o ciclo vicioso se repete. Uma tensão cada vez maior se constrói entre as duas personas, que são uma pessoa só, mas começam a se ressentir e a se sabotar. Cada vez mais Sue, motivada pela vaidade e outros pecados, atrasa a troca cada vez mais, o que consome e destrói, corporalmente e mentalmente, Elisabeth.

O operador da Substância fica repetindo toda vez que Sue/Elisabeth ligam para reclamar que a outra não está respeitando o equilíbrio que elas são a mesma pessoa. Insinuando que Elisabeth não se auto-respeita.

Tudo se aprofunda mais ainda quando Elisabeth, já em um corpo que aparenta ter 80 anos, está assistindo uma entrevista de Sue que é questionada sobre sobre Elisabeth Sparkles, e Sue demonstra terrível ingratidão. Se refere ao programa de Elisabeth como “Jurassic Fitness”. Nesse momento, Elisabeth passa a idolatrar o seu antigo eu (pré-transformação), querendo voltar a como era antes, o que é irônico, e mostra que o problema dos afetos desordenados é algo que precisa ser corrigido interiormente e não exteriormente.

Elisabeth deixa a casa destruída, dezenas de pratos e panelas de comida espalhados pela cozinha e a sala. Ela também a janela que dava vista para o outdoor com a imagem de Sue com papel de jornal. Sue então acorda da troca, vê a casa nesse estado terrível e decide que basta daquela situação. Ela decide que nunca mais irá fazer a troca, e extrai o máximo de fluido estabilizador do corpo de Elisabeth até que o fluido acaba e não há mais possibilidades se não a troca para sobreviver. Interessante que quando isso acontece, ela tem um homem em seu apartamento e tudo isso acontece logo antes dela ir para a cama com ele. Novamente a associação do pecado contra a castidade.

Elisabeth acorda da troca totalmente horrorosa. Careca, fraca, já não parece mais uma mulher. E nesse ponto, ela olha para o espelho, vê o seu estado, e decide terminar o experimento da substância. Vejo isso como um breve impulso da alma que tenta sobreviver. Ela então pega a injeção de término do experimento, levanta a mão, e … começa a duvidar se deveria realmente prosseguir. É atacada por vozes que a questionam.

Porém, ela decide prosseguir e então enfia a agulha no coração da Sue e começa a injetar o líquido. Mas quando já tinha injetado cerca de metade do líquido, ela se arrepende. Ao olhar para a Sue, o orgulho mais uma vez é mais forte que ela. O pecado está tão infundido em sua alma que ela não vê mais a sua vida e sua identidade sem a Sue, sem o pecado.

Então ela tira a agulha e tenta fazer massagem cardíaca no corpo. A massagem não funciona, então ele decide realizar o procedimento de troca: pega o seu sangue e conecta com o corpo da Sue. E supreendentemente, funciona. Só que agora em vez de apenas uma persona consciente, as duas personas, Elisabeth e Sue, estão conscientes e elas se olham. O pecado e a alma olhando nos olhos um do outro. A morte e a vida.

E motivada por todo o ressentimento cultivado, Sue então começa a tentar matar Elisabeth, que tenta se salvar. Mas o corpo de Elisabeth já está destruído, velho, não funciona direito mais, e o de Sue, é jovem, fitness, perfeito. É uma competição que já se sabe o resultado antes de começar: o pecado está tão forte que uma alma fraca como aquela, distante de Deus, não tem chance de sobreviver.

Nessa briga, duas cenas se destacam para mim. A primeira é quando Elisabeth corre para dentro do banheiro, onde toda a bagunça começou. Sue consegue alcançá-la e de frente para o espelho, lugar de ocasião de muita auto-idolatria, ela pega a cabeça da Elisabeth e as duas se vêem através do espelho. Sue tem o olhar demoníaco de completa dominação, enquanto o olhar de Elisabeth é desespero. A outra cena é a finalização. Na sala, Elisabeth já está caída, completamente destruída, mas Sue não para, e começa a chutar Elisabeth, e a cada chute, mais a Sue e o ambiente se sujam de sangue, e ela sem descanso continua. Quando ela para, ela já está completamente vermelha coberta de sangue. Não é claro, porém, se Elisabeth realmente morre ou apenas fica em um estado vegetativo.

Sue então, sem remorsos nenhum do que ela acaba de fazer, volta para a sua jornada do orgulho e vai se preparar para o grande show da véspera de ano novo, onde ela, por ter tido muito sucesso com seu programa, foi escolhida para ser a apresentadora. Ela já está na emissora, com a roupa pronta, mas ela começa a ter sintomas como o da falta do líquido estabilizador. Ela então vai ao banheiro e cospe algo na mão dela, e quando ela abre, é um dente. Ela se olha no espelho, com uma cara de aflição de ver o seu sorriso sem um dente. E tem flashbacks do estado em que ela deixou Elisabeth. Elisabeth e Sue são uma, então agora Sue está sofrendo dores que ela causou em Elisabeth. Ela então prossegue a arrancar mais três de seus próprios dentes.

Esse sorriso sem seus dentes estragaria o show da véspera de ano novo, então ela começa a pensar no que ela pode fazer. E ela pensa então em usar novamente o líquido ativador, que deveria ser de uso único. Repete-se então o tema: afundada no pecado, ela torna-se cega para o fato de que repetir o mesmo erro, aprofundar-se na morte espiritual, só piorará a situação.

Ela então sai do banheiro e se depara com o produtor porco e machista da emissora, que está junto dos acionistas da companhia que queriam conhecê-la, a grande estrela. Ela então fica paralisada, pois não pode mostrar sua falta de dentes. Quando o produtor pede para ela sorrir, ela fica terrivelmente aflita e esboça um sorriso de boca fechada, o que é suficiente para aqueles homens, que logo depois se distraem com as outras dançarinas que passam pelo corredor semi-nuas.

Sue então consegue chegar em casa, tira seu vestido e aplica o líquido ativador, e como aconteceu com o corpo de Elisabeth, ela cai no chão, começa a contorcer e uma terceira persona surge através da Sue. Essa terceira persona já não é propriamente humana. Chamada de Monster Elisasue, ela é realmente um monstro. Possui partes humanas, mas seu rosto é totalmente desfigurado, seu corpo tem partes todas em lugares onde não deveriam estar. É o ápice, não existe mais separação da personas, nós temos a própria personificação do estado atual da alma de Elisabeth: desfigurado, degenerado, asqueroso, nojento e morto, aquilo que vemos já não é mais próprio do que fomos criados para ser.

Nas costas do de Elisasue tem o rosto de Elisabeth, com seus olhos, nariz e boca, semi-consciente, que consegue olhar para o que está acontecendo, mas não consegue falar nada, pois sua boca está completamente aberta, de como quem quer gritar, e tem uma aparência de aflição, mas sua boca está tampada por pele. Aquilo ali é o que resta da alma de Elisabeth que habita naquele Monstro.

O Monstro Elisasue então se vê no espelho, e após um pequeno momento de descrença do que tinha acontecido, volta a ter orgulho. Elisasue decide então que mesmo naquele estado, ela vai apresentar o show de ano novo naquele estado. Ah… O quão longe vai a vaidade. Elisabeth, agora na persona de Elisasue, não tem mais nenhuma característica boa. Ela é nada. Nada e pecado. E tem orgulho de ser nada e pecado.

Elisasue então se arruma, bota o seu vestido, cujo a alça tampa o rosto de Elisabeth em suas costas. Coloca brincos, mesmo sem ter orelhas. Levanta-se, corta uma o rosto do quadro enorme que Elisabeth tinha de si mesmo na sala e cola esse rosto na “cabeça” do seu “corpo”. Aqui, chegamos no final do itinerário do orgulho: fingimento e hipocrisia. Tem que se fingir ser aquilo que não é e exagerar o que possui.

Elisasue então volta ao prédio da emissora, onde ela entra, e passa por aquele corredor onde no início do filme Elisabeth passara. E hoje este corredor possui dois posters de Sue. A câmera então corta para a primeira pessoa, e mostra como a visão dela atrás da máscara. E ao entrar no corredor, vemos uma multidão de pessoas que esperavam a Sue, e estão sorridentes, batendo palmas e tirando fotos. Mas em um instante, percebemos que aquilo não é real. É uma ilusão, e não tem ninguém no corredor.

Muito interessante essa cena, pois explicita o fingimento. Nós temos a visão e a consciência que ela está agindo por trás de uma máscara, fingindo ser quem não é. Com qual motivação? O desejo desordenado que ela tem pela estima de si mesma que os outros carregam.

Ela então prossegue para o palco, que está tudo escuro, vai para o meio do palco onde tem o microfone, e antes das luzes acenderem, o produtor diz para os acionistas: “She’s my most beautiful creation”. Ele diz isso, com, literalmente, um monstro no palco, mostrando as consequências do que acontece quando tentamos brincar de Deus e criarmos nossas próprias regras do que é bem e mal, quando nós temos a soberba de negar Nosso Perfeito Criador, e o que Ele nos diz que é o melhor para nós. A voluntária auto-exclusão leva ao desastre.

As luzes então se acendem e por um momento há silêncio, como se todos da plateia ficaram descrentes do que eles estavam vendo, mas sem as reações viscerais de ver aquele monstro. Elisasue então tenta começar a performar, mas sua máscara cai. E ela começa a tossir e começa o fim do filme que terá muito horror corporal e gore. Na tosse dela, algo está agarrado em sua garganta, como se fosse um pigarro. Mas não é um pigarro, ela bota para fora e sai uma mama de dentro dela. E quando esse peito cai no chão, o caos se instala.

As pessoas começam a gritar, correr, tampar os olhos das crianças. Começam a gritar pedindo que matem o monstro, e Elisasue tenta dizer que é a Sue que está ali. Mas isso não muda nada, as pessoas começam a atacar ela, e sangue começa a jorrar em todo o teatro. Interessante pensar, se as pessoas conseguissem ver a nossa alma, o que elas veriam? Como seria a personificação da minha alma? Seria um personificação bonita, suave e gostoso aos olhos, ou seria uma personificação monstruosa como Elisasue, que enoja quem vê?

Depois de toda a pancadaria, Elisasue consegue sair do estúdio, e já debilitada, próxima de sua morte cai ao chão. O rosto de Elisabeth em suas costas consegue se desvencilhar do resto do monstro, que já não se mexe mais. O rosto de Elisabeth está agora em uma gosma que se consegue se mover e andar lentamente.

O rosto então se move, rastejando lentamente. Em direção à calçada da fama de Elisabeth, onde tudo começou. Ele então chega lá, onde da seus últimos suspiros, em cima do nome de Elisabeth Sparkles, e se liquefaz. Durante a manhã, passa o zelador em com uma máquina limpando o chão e suga qualquer resto do líquido que ali se encontrava.

O filme então acaba no fim último do pecado e do orgulho: o inferno. O estado definitivo de auto-exclusão da comunhão com Deus, escolhida por própria e livre escolha. Acontece justamente quando morremos em estado mortal, sem arrependimento e sem acolher o amor misericordioso de Deus.

E isso responde uma questão muito importante sobre o inferno. A alma no inferno tem plena consciência de sua separação e o sofrimento que essa separação causa. Mas a alma no Inferno está tão apegada ao pecado e sua rejeição a Deus, que ela não deseja estar em estado diferente. Ela continua no Inferno e não quer algo diferente. Assim como Elisabeth decide, continuamente ao longo do filme e ultimamente em seu último suspiro, após ver todo o sofrimento que ela passou, permanecer em seu orgulho.